A pesquisa Matriz da maturidade empreendedora: desafios e oportunidades, realizada pela Fundação Dom Cabral (FDC), revela que 45% dos empreendedores estão endividados. Independentemente do nível de amadurecimento, a gestão financeira é destacada como um dos principais desafios enfrentados na condução dos negócios.
O primeiro passo para contornar essas dificuldades é entender melhor o que significa fazer a gestão financeira, que vai muito além do controle sobre contas a pagar e a receber. Trata-se de compreender a viabilidade do negócio no longo prazo, monitorar indicadores e usar dados para embasar decisões estratégicas.
Muitas vezes, acontece o oposto: há uma confiança excessiva na própria intuição. Isso vale tanto para questões financeiras quanto para aspectos comerciais – no estudo da FDC, mais da metade dos empresários manifestou desinteresse em realizar análises de mercado. “A falta do conhecimento sobre a gestão financeira faz com que a empresa seja completamente míope com relação à estratégia de mercado”, alerta a professora da FDC e especialista em gestão empresarial, Elisângela Furtado. É a visão clara e estruturada da situação financeira que sustenta o negócio, assegurando, por exemplo, a precificação correta, os investimentos em expansão, os lucros, entre outros pontos.
Embora as dificuldades maiores acometam os pequenos negócios, a confiança excessiva na intuição está presente em todos os níveis de empreendedorismo. “Pela pesquisa que realizamos, até grandes empresários confiam na própria leitura de mercado sem buscar
dados concretos. É uma característica comum, mas pode ser arriscada. O mercado muda rapidamente e confiar apenas na intuição pode levar a decisões equivocadas”, explica Furtado.
A saída é adotar ferramentas e indicadores que ofereçam condições de análise mais precisas. Outra recomendação é tomar consciência do contexto e contar com apoio especializado sempre que necessário. “Os empreendedores enxergam dores e criam soluções para o mercado, mas isso não quer dizer que são pessoas que têm superpoderes para resolver qualquer tipo de problema”, ressalta a professora.
Valor e previsibilidade da gestão
“O empresário tem uma facilidade quase que intuitiva para relacionar vendas, marketing e recursos humanos, que são áreas iniciais para qualquer negócio. Só que isso é uma pequena parte do iceberg, porque, à medida que o negócio começa a se desenvolver, é preciso ter embasamento técnico para finanças, o que, muitas vezes, é relegado a segundo plano”, argumenta o professor de finanças corporativas, investimentos e controladoria da Pon
tifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Rafael Disconzi Rodrigues.
O cenário se complica diante das adversidades, que não são poucas. “Enquanto a maré está boa, ele está indo bem. Depois, quando vem a crise, ele realmente não sabe o que fazer, porque falta esse embasamento técnico”, acrescenta Rodrigues. Em outras palavras, o empresário está gerenciando o negócio sem previsibilidade – e essa é uma palavra-chave quando o assunto é gestão financeira.
“A gestão financeira representa o alicerce que sustenta todas as demais áreas da organização”, esclarece o professor. “Para as pequenas e médias empresas, o controle adequado dessas finanças é vital porque, muitas vezes, elas operam com recursos limitados e precisam maximizar a eficiência dessa alocação de capital”.
Rodrigues aponta que a gestão possibilita três coisas indispensáveis para administração financeira da empresa e todas estão relacionadas à previsibilidade. “Primeiro, traz uma visão
clara do fluxo de caixa. E não é só identificar entradas e saídas, mas principalmente antecipar potenciais desequilíbrios financeiros”, comenta.
O segundo item é que a gestão financeira permite que o gestor tome melhores decisões de investimento e financiamento, o que impacta a viabilidade do negócio. “Com informações atualizadas e confiáveis, é possível avaliar retornos e riscos dessas decisões, escolhendo os melhores caminhos para investir ou captar recursos”.
O terceiro aspecto é a mitigação de risco e preparação para imprevistos. “Quando eu entendo a dinâmica do meu negócio sob uma perspectiva futura, eu começo a pensar em reserva financeira, que não se compõe na crise”.
Visão integrada e apoio contábil Para manter uma gestão financeira eficiente, é essencial monitorar indicadores como fluxo de caixa, contas a pagar e a receber, estoque e faturamento. “Esses pontos estão interligados e devem ser acompanhados de forma integrada para garantir que a empresa consiga gerar lucro e manter sua competitividade no mercado”, afirma o
presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas no Estado de São Paulo (Sescon-SP), Antonio Carlos Santos.
O contador tem um papel estratégico nesse processo, ajudando a organizar as finanças, interpretar dados e estruturar planejamentos. Relatórios como a Demonstração de Resultados e o Balanço Patrimonial permitem identificar pontos críticos e oportunidades de melhoria.
Além disso, o Business Process Outsourcing Financeiro (BPO, terceirização de processos de negócios financeiros, em português) pode aumentar a eficiência. “O empresário ganha mais tempo para cuidar do seu próprio negócio, focando nas áreas estratégicas e operacionais, enquanto deixa as questões financeiras nas mãos de especialistas”, pondera Santos.
A gestão tributária também exige atenção. Santos adverte que nem sempre o Simples Nacional é a melhor opção de regime. “É preciso fazer contas e projeções antes da opção. Cada regime possui vantagens e desvantagens, e a escolha errada pode resultar em um pagamento de tributos maior do que o necessário”. Outro risco é o endividamento. Santos recomenda “monitorar de perto a inadimplência e os passivos, adotando práticas como controle de crédito, análise de risco e planejamento financeiro”. A tecnologia facilita todos esses acompanhamentos.
Fonte: Revista Conmax